sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Maria Dália Helena

Quando nasceu Madalena, um anjo adentrou a sala de parto e com vestes de fios dourados declarou em voz alta: esta menina será poesia!
Inclinou-se em direção ao médico, deu-lhe um tapinha nas costas e saiu pela janela, rumo ao céu celestial.
A mãe sem entender nada, ainda sob efeito da anestesia disse fraca, entontecida: vai se chamar Maria!
E assim começou uma bela história, já na porta do cartório o pai atarantado se recusou a registrar a menina:
- Se o anjo disse que será poesia porque diacho tem que se chamar Maria?
- Homem, não questiona, dizia a mãe agitada, com corte de cesariana na barriga e poesia nos braços: - o nome escolhi por causa da virgem santa.
- Mulher, profecia de anjo não pode ser ignorada, nossa filha tem carinha de flor rosada do campo, bonita feito Dália e assim deverá se chamar. Tem poesia maior que esta?
Nesse instante o tabelião já impaciente disse com voz abafada por detrás do vidro que o separava: se for pra respeitar o presságio do arcanjo, porque não coloca Helena, nome forte e de inspiração?
Os pais se entreolharam espantados e com olhos desconfiados exclamaram em uníssono tom: Alguém aqui pediu sua opinião?
Fez-se então um escarcéu dentro do cartório, o pai não queria Maria, a mãe não queria Dália e o funcionário descabido se negou a registra-la.
Foi preciso intervenção do padre da cidade que chamou os marinheiros de primeira viagem para uma conversa de decisão.
Primeira indagação do Olegário:
Mãezinha me diga cá uma coisa só, o anjo em sua aparição disse com afirmação que a menina deveria se chamar Maria?
- Seu padre, em verdade verdadeira, ele num disse não.
Segunda e última indagação:
Seu Antonio veja cá só uma coisa, a meu ver, é bonito de sua parte querer nome de flor, mas o senhor já pensou que rosa murcha e com o tempo perde a cor?
De repente caiu sobre os principiantes uma luz bem forte do alto dos céus, 
clarão tão alvo capaz de cegar a todos que ali estavam.
Era o anjo do prenuncio e em seu segundo surgimento falou-lhes com voz cantada:
- Presságio Divino não pode causar contenda, se há confusão de escolha da graça da pequena, porque não fazes uma junção? (Pluft!)
E sumiu deixando fumaça, feito trem na estação.
Estáticos, comovidos, o silêncio cobriu o recinto, sendo possível ouvir as batidas de quatro corações. O padre emocionado e como na cena de "O Rei Leão", levantou poesia nos braços batizando-a de Madalena.
Conforme mensagem do anjo bendito, a promessa se cumpriu, Madalena cresceu faceira, delicada em sua predestinação, seus sorrisos cheios de poemas, seu nome por si só já era a mais pura poesia e beleza igual a dela, nunca, em nenhum outro lugar, se viu. 

Carine Morais

2 comentários:

  1. Um presságio divino, um nome poético, uma vida toda de poesia. Lindo texto. A origem do nome ficou perfeita e Lembrou-me de uma antiga canção do Ivan Lins https://www.youtube.com/watch?v=kLmRDGGkY1o
    Um abraço!!!

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  2. Obrigada Paulo!
    Ainda não conhecia a belissima canção de Ivan Lins, essa composição trouxe um charme a mais para o texto, tornando-o ainda mais bonito.

    Sua visita é sempre bem vinda.

    Abraço!

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