sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Sobre o amor: pensamentos de café da manhã




O amor pode ser a geleia na torrada ou pode ser o pote inteiro, pode ser as torradas, desde que não muito passadas, entregues com gentileza numa bandeja.

Amor pode ser o abrir dos olhos, a luz que entra pela janela e faz carinho no rosto, que faz coçar a barba, que faz sentir vontade de não abrir os olhos, nessa hora, se abrace.

Amor pode ser o abrir das cortinas vislumbrando um novo dia, observando cuidadosamente um pássaro tecer seu ninho para o futuro que o espera.

Amor também são pássaros no ninho, filhos que nos enchem de alegria, são frutos, sementinhas que brotam vitoriosas.

Amor é o esticar do corpo que faz estalar a coluna, entorta os braços, mas endireita os laços de amizade com você mesmo.

Amor, é percurso, estrada feliz que te acompanha pela grama, é cercadinho que protege seu jardim, mas que permite que sejam vistas as flores cultivadas.

Amor é ato, estado, cidade, um país inteiro, é graça, risada, é alma pedindo vida, pulmões que respiram em força total.

Aprendi com os amores do dia a dia que o amor é bondade transformada em ação, é o desejo que por vezes nos falta de enxergá-lo nas pequenas coisas, que na verdade são grandiosas. 
Mesmo quando decidimos não encontrá-lo, ou ignoramos sua existência, ali ele está, permanecendo fiel, a espera de olhares tangíveis à sua sensibilidade. Eis a bondade de amar em seu sentido mais concreto e consumado: o amor acontece no exato instante que nossos olhos se lançam em comunhão com o que vêm e ali mesmo, incrédulos, abobalhados, se casam para sempre, felizes, sem fim.

Carine Morais

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Pé grande

Quando era criança, costumava observar as grandes montanhas que faziam parte do caminho da cidade em que morava até a casa da minha tia.
Eram montanhas gigantescas com um longo tapete verde estendido de uma extremidade a outra, como uma grande camurça suíça que terminava onde os meus olhos não podiam alcançar, me lembro que de longe era possível observar significantes marcas no centro do tapete, pegadas gigantes e desastrosas, eram profundas, logo eu imaginava que só podiam ser de dinossauros.
Não podia estar enganada, é claro! Lá onde os meus olhos não enxergavam deveria ser o misterioso vale em que eles moravam, e tudo fazia sentido, como nas revistas de história. Incrível era imaginar que eles já tivessem morado na minha cidade, com tantos lugares no mundo, e como tudo parecia acontecer só nos Estados Unidos, como o homem ter pisado na lua, eles acharam de morar a algumas quadras de onde tempos depois seria construída minha casa.
Todas as vezes em que passava por ali, pelas marcas dos pés antigos, alimentava dentro de mim que eles realmente haviam existido. E a prova estava viva, à vista de todos, com registros de uns quatro dedos e um calcanhar enorme. Se eu pisasse no tapete lá de casa daquele jeito minha mãe me colocaria de castigo por uns 200 anos e eu seria encontrada de joelhos por um arqueólogo como acontece com fósseis por aí.
Num belo dia olhando para as montanhas como sempre fazia, observei que havia uma propaganda de táxi, no centro: “ligou, chegou!”, achei estranho, pintarem o tapete de branco com um número de telefone, alguém sem entender a proporção desmedida de sua atitude havia pisado em campo próximo as marcas do pé gigante, talvez ele não tivesse se dado conta de que ali havia um segredo que poucas pessoas soubessem, um achado paleológico valiosíssimo em terras brasileiras, fiquei a pensar por vários dias que aquele taxista ousado tivesse sido tão importante quanto o homem que pisou na lua, sendo o primeiro a pisar na montanha dos dinossauros.

- Carine Morais