quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Pre - potente



Subiu numa caixa de fósforos
pensou que fosse óbvio
discutir filosofia de vida

acendeu dois cigarros
antropologia
sintaxe
fumaça solta na face
pura e sórdida hipocrisia.
Apenas velhos palitos riscados
ideologia de mártires
cinco ou seis disparates
lhe fizeram companhia.
 

(Gandhi não estava entre eles.)


- Carine Morais

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Azar no jogo

Não por mim
por ti, mas por nós
deixei de ler nossos signos
não acredito nos símbolos
búzios e seu futuro atroz
valendo valetes
descartei todas as cartas
ouros rainhas
copas espadas
não nos lanço ao vento
nem adivinho mais nada
tudo posto sobre a mesa
toda sorte já lançada
agora seremos três
eu, você
e o nosso conto de fadas.

- Carine Morais

Cortinas

Chora a menina,
Lambe a lágrima caída, sofrida. 
Lambe o sal do mar da retina, 
Para acalmar as ondas de uma ferida. 
Enxuga com papéis o poço de cortinas íntimas, 
as pálpebras cobrem o espetáculo do choro, 
onde lambe as lágrimas a menina.


- Carine Morais 


Imagem: autor desconhecido
Imagem sugerida por: Jéssica Mirtiany

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Fora do cacho



O que eu acho
Não muda o mundo
Não me perco
Nem me acho

Vivo fora desse tempo
Dentro apenas de outro espaço
Passado não é problema
Presente é caixa com laço

Futuro é fruto crescendo

Sou uva fora do cacho.

- Carine Morais

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Viagem no tempo


Que prazer deve existir em beijar os ombros de alguém? Pensava ela, enquanto ele lhe beijava os ombros. Passou-lhe a mão pelo rosto e o queixo dele já estava encaixado em suas saboneteiras. Meio que um sufoco. Respirou por cima de seus cabelos, estavam arrepiados com gel. Braços envoltos em sua cintura 56. Juntos pareciam uma oldicéia, ou dois polvos se flertando a luz do dia. Ou melhor, mais que isso, era como se estivem dentro de uma máquina do tempo, dessas em que as décadas passam depressa enquanto seus viajantes ficam parados no lugar. Voltaram ao primeiro encontro, no dia em que sentaram no meio fio do colégio e conversaram sem se tocar, rolou até despedida sem beijo, ele ficou sem jeito de puxa-la pelo pescoço como se passava em sua cabeça. Ela poderia gritar, ou não, poderia virar o rosto, se bem que estavam perto e não daria tempo. De repente um beijo de raspão, um descuido qualquer, no canto da boca talvez. Sorriu.
Ela pensou em beija-lo no rosto, mas preferiu mexer no cabelo, já estavam de pé e a mochila pesava pra caramba, quis pensar que ele iria beija-la, mas ficaria vermelha só de pensar. Ficou vermelha. Tossiu dizendo: "então tá né! hora de ir."Quis morrer por dentro, não se despede de quem se gosta assim. Sorriu pequeno, dando tchau de perto. "Droga! também não se dá tchau de perto". Se perderam de vista...
Mas agora era diferente, era presente, seis semanas depois do primeiro encontro. Nem fazia muito tempo é verdade, mas até ali a espera havia sido grande. Mais que dentro da máquina do tempo, estavam com saudade o suficiente, próximos mais que antes, estavam em 04 de Fevereiro de 2013. Estavam dentro de um abraço.

- Carine Morais


(R)ímãs

Tenho problema de rima
Toda vez que pinta um clima
Com a lua ou sol
Lá em cima
A palavra
Me domina.
Acontece desde menina,
Solteira
Mulher
Feminina.
Tudo liga feito ímã
Tudo casa
Completa
Combina,
Desde Adélia,
Lobato e
Cecília,
Até Cora Coralina.

- Carine Morais




Saudade é esperança,
Espera com ânsia,
Chuva sem dança,
Um tango sem par.

- Carine Morais

Carta e seus afins


Assim por meio desta
Minha alma atesta
O que sente enfim.
Em noite de samba
Ou seresta
A lua samborilando
faz festa,
Refletida 
Em minha testa,
Iluminada de ti.

Assino.

- Carine Morais