segunda-feira, 28 de julho de 2014

Prefiro


Prefiro cachorros
prefiro lua cheia
prefiro barbas mal feitas, quando parecem que estão feitas
prefiro andar de ônibus, do que de táxi
no ônibus posso refletir a vida e descer sem dizer para onde vou
prefiro comedias românticas a dramas de quem só reclama
prefiro batatas assadas, mas não as minhas e nem as do vizinho
prefiro sorvete de chocolate
prefiro falar sozinha a ter que ouvir sozinha pessoas que só falam e nada escutam
prefiro licença poética que o politicamente correto
prefiro dançar a dois, pela chance de acertarmos juntos
prefiro orações silenciosas a pedidos enfáticos e decorados
prefiro o direito de falar o que penso, ao direito de estar sempre certa
prefiro unhas vermelhas
prefiro conversar com arvores que balançam dizendo sim e não àqueles
que concordam com tudo
prefiro encorajar as pessoas naquilo que elas não sabem que acreditam
prefiro meias coloridas
prefiro livros a jornais, os livros são mais criativos quando o assunto é inventar histórias
prefiro acreditar que sempre tenho duas saídas
prefiro par ou ímpar a jogos do bicho
prefiro ouvir os mais velhos
prefiro aprender com as crianças
prefiro não falar muito sobre mim, mesmo preferindo dizer o que prefiro
prefiro centenas de idiotas que não sabem o que dizem, a milhares deles
matando pessoas como se soubessem o que fazem
prefiro discordar de religiões a abrir mão do que o meu coração diz
prefiro não ter religião
prefiro ser um templo
Eu preferiria que o mundo fosse mais “humano” e menos "humanos"
preferiria escrever estas coisas numa praia serena, com um céu sem lua, mas preferindo estar em Paris olhando as estrelas.
eu prefiro tantas coisas que não caberiam num só lista, não caberiam no meu comportamento mutável, na minha contradição causada por uma memoria esquecível, falível com o passar do tempo.
De todo este corpo que me foi cedido, prefiro os olhos, ouvidos, mãos e o coração, assim posso sentir o que digo, ouvir minha intuição e escrever o que prefiro com minhas mãos imperfeitas, jovens ainda, mas que envelhecerão um dia, até que se tenha dito tudo, ou quase tudo, de preferencia o que sinto.

- Carine Morais

Imagem: Robert Doisneau

domingo, 13 de julho de 2014

Reflexos do meu não ser


Esta sou eu, ora virtudes, ora defeitos
com dois lados paralelos de um rosto
que sorri e chora

eu poderia ser a pintura de um retrato imaginário
que nas mãos de um bom pintor
sonharia em existir

poderia ser uma francesa,
saindo à francesa pelas ruas de Paris,
fotografada por Doisneau

um cacto no deserto
que apesar dos espinhos
empresta beleza a cena

mas esta sou eu, vinda de um solo fértil
do sonho de não existir apenas por existir,
sou o que não reflete o espelho.

- Carine Morais