segunda-feira, 31 de março de 2014

Raizama


Plantei uma flor em teu peito,
num disparate ela cresceu sem jeito
e foi criando raízes 
até onde nasce o teu sorriso,
amor é isto. Planta que fecunda a carne.

- Carine Morais

P.s: Título escolhido em homenagem a uma linda cachoeira que conheci.

terça-feira, 25 de março de 2014

Sede literária


Não nos prive 
de beber água boa
dessa assim 
tão pura e límpida
posto que sede 
é necessidade
e uma vez não suprida
mata o ser humano 
em poucos dias
em se tratando 
de sede poética
ora essa!
pode matá-lo 
o resto da vida. 

- Carine Morais

Companheiros de um poeta solitário



Minha mente segue linhas 
cujo final não se sabe 
apesar de sozinhas 
são solidárias com o lápis,
solitário seria não tê-las 
escrevo o que dá na telha 
meu intelecto não tem teto 
e talvez por isso as letras 
me caiam sem fazer estragos 
assim as trago
assim me tragam 
num gesto sublime
de quem nasce apenas

para salvar seu poeta.
solidão é papel sem versos.
 

- Carine Morais

domingo, 16 de março de 2014

Amarelo, mostarda queimada e cintilitante


Quando eu tinha cinco anos meu pai apareceu com um fusca lá em casa, era de um amarelo tão lindo, mostarda queimada e cintilante. Ele chegou afobado, erguendo os ombros num tique frenético, querendo mostrar o presente estacionado no quintal, assim ele ficava sempre que estava empolgado, quando sua alegria era tanta que mal cabia no peito. Depois de observar o possante por horas, sentir o cheirinho de carro que papai havia colocado, estávamos todos orgulhosos do mais novo integrante da família.
Nas noites de domingo andávamos pela cidade ouvindo canções de uma velha fita, pareciam eternas as ruas que passávamos, mesmo aquelas estradinhas de chão batido. Com ouvidos ligados na música do padre Zezinho, oração pela família, observava as pedrinhas que o farol acendia, deixando o chão reluzente, aquela era a estrada mais bonita que os meus olhos conheciam, entretanto o efeito mágico só acontecia nas noites de domingo voltando para casa, no outro dia o chão voltava sua cor de barro triste e desbotado.
Acreditava de um jeito abençoado, que aquele piso dourado e suas pedras de ouro, só aconteciam por mistério de nosso Fusca amarelo, mostarda queimada e cintilante.

- Carine Morais

segunda-feira, 10 de março de 2014

Infinitude

Meu coração se alegra sempre que leio Adélia
é uma flor que nasce menina
num campo cheio de sabedoria

os saberes são galhos verdes que cintilam os olhos

e vão desabrochando suas palavras divinas

sem pensar no depois

Adélia é hoje
é um agora infinito
uma gratidão imensa 
maior que o campo de flores meninas

que sempre nascem sabidas 
até onde não se pode mais ver.

- Carine Morais