domingo, 27 de outubro de 2013

Amores populares



Ela, cresceu ouvindo a vó dizendo: "cada um tem a tampa da sua panela” não esquece menina, “todo pé torto tem seu chinelo velho”, um dia você encontra o seu. Foi treinada a acreditar que o amor era um encaixe, ainda que imperfeito, formula inventada pela ciência, onde dois elementos uma vez misturados são capazes de provocar uma reação em cadeia, corpos presos ao ar livre: a paixão.
Ele, cresceu assistindo Bob em seu fantástico mundo, queria ser como ele, sair viajando por aí em seu velotroz maneiro, um dia no mundo real, outro na lua, aprendeu a encarar a vida solitária e fascinante, tornou-se um viajante acompanhado apenas da própria sombra e de amigos imaginários que envelheceram ao seu lado, para ele o amor nada mais era que conta inexata, um dividido por um, multiplicado por zero, estava certo disso, ou não.
Os dois cresceram ouvindo que a vida é uma caixinha de surpresa, não de fósforos, de música, alianças ou coisa do tipo, mas caixinha de um mundo que dá voltas, eles também já escutaram isso, só não sabiam até o dia em que se conheceram.
Ela fala que aconteceu num domingo, ele afirma que era sexta, ela insiste que foi numa praça vazia depois de um feriado que caiu no sábado. Ele não desiste da ideia de que era sexta feira treze e que por sorte ela não era nenhuma obra do azar.
Para os cientistas que criaram aquela formula em que dois elementos misturados emplacam uma paixão, esse romance não poderia dar certo, fora que ela era de Marte e ele de Vênus.
Para os matemáticos do amor inexato onde o resultado em análise ainda que hipotética jamais passaria de um, eles não tinham nada para dar certo, só pelo fato de serem dois.
Até aqui um amor proibido, uma divergência de vivências, ela atrás de um chinelo velho como dizia sua vó, ele numa moto possante, número ímpar e solitário. Parecia piada, amor de novela, que só funciona na ficção, parecia peça, dessas que a vida prega, que o acaso nos pega e faz o que bem quer. Podia ser tudo, historia de gibi sem chance de final feliz, mas era amor antes mesmo de ser. Ainda que a conta feche, mesmo que os pés se cansem, com ou sem autorização, amar não é aquilo que ouvimos o senso comum dizer, o amor é como sarampo, todos temos que passar por ele, já dizia a minha mãe.

- Carine Morais

sexta-feira, 25 de outubro de 2013



Dançava faceira 
a bailarina
ao som de valsa
girava o mundo 
girava a saia 
num túnel de tempo
onde as coisas 
não paravam no lugar
era setembro
era outono 
cujas folhas caíam
sem que ela soubesse
era um mistério
vê-la dançar
só tinha um passo
talvez escasso
até que a caixa
se fechasse
e ela désse
seu último
suspiro.


- Carine Morais

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dia dos namorados

Eram dois vagalumes
vagamente à luz do lustre
Vagner seduzindo 
num estilo demodê
Vagalú no mês de junho
apaixonados 
sem saber porque.

- Carine Morais

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Angelina



Rarefeito é o ar
que fica 
com teu sorriso 
Angelina
Satisfeito
abro o peito 
pras tuas fantasias
fito teu jeito
e já está feito
o efeito
adrenalina
me fale a respeito
me conte direito
o que te faz
ser tão menina.
 

- Carine Morais

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Opostos

Ela desenhava 
flores
pétalas, 
caules 
e folhas
pintava botões 
com aspirais,
inspirava as rosas,
criava margaridas
confundidas 
com girassóis.
Talvez 
ela apenas 
fosse 
a florzinha roxa
em sua última 
página 
da agenda
a espera 
de um cravo 
desatento, 
que se apaixonasse 
por uma violeta.

- Carine Morais

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Tarde na Sertaninha

Tarde na Sertaninha
o clima estralava mais
que chão trincado em barras
e a seca esperava em vão
uma gota de chuva
que saciasse a terra.
O céu com sol gemado
amarelava em nuvem clara
feito ovo estrelado
numa frigideira seca
cujo sal seu único tempero
estava no suor do povo.


- Carine Morais