sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Detalhes tão pequenos...

Das coisas que eu fiz a metro, todos saberão quantos quilômetros são. Aquelas em centímetros, sentimentos mínimos, ímpetos infinitos, não."

Paulo Leminski

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Carência afetiva: Espaço breve entre estar só e bem acompanhado

Falar em carência pode soar um tanto quanto assustador, afinal de contas esse é um dos requisitos principais para se mandar alguém com passagem só de ida para a lua. Au revoir!
Gente carente é evitada, é taxada de melodramática, é dependente física de outras pessoas, pessoa carente é vista como depressiva, insegura e para os adeptos de gírias idosas, são chaves de cadeia.
Quando na turma de amigos alguém solta a frase: “tô carente”, imediatamente pensamos: tá sentindo falta da ex; E essa não seria uma má hipótese já que justamente por esse motivo regredimos a relacionamentos anteriores e caímos no famoso flash back da vida, a recaída do coração.
Quem nunca procurou o ex num momento de fraqueza, após buscar amor onde não podia encontrar?
Quem nunca ligou bêbado para a ex namorada após uma noite fútil de piriguetes e bebidas à vontade?
E quem nunca beijou várias bocas com o intuito de fugir da temível frustração amorosa?
Ser carente é um estado de espírito e ele pode passar com a mesma rapidez que surgiu, ainda que inconscientemente você acredite não ter talento algum para relacionamentos e que chupar cana e assobiar ao mesmo tempo seja muito mais fácil. 
Carência nada mais é que ausência total ou parcial de laços afetivos, é compreensível que a falta desses vínculos nos façam tomar decisões drásticas algumas vezes, porém não devemos deixar de acreditar que a presença dessa necessidade é o que nos faz ir em busca de melhores oportunidades. Sabe aquele dia em que esbarrou com seu amor dentro do ônibus e desde então sua vida mudou? Foi movido pela precisão de afeto que tudo começou, o lado positivo disso tudo é basicamente esse, ficamos mais permissivos e abertos a novas experiências. A escassez afetiva é como um prazo que damos a nós mesmos antes de entrarmos numa nova relação, é o espaço breve entre estar só e bem acompanhado.
 Para quem já passou pela fase foreve alone fica a experiência de dias solitários, porém reflexivos, para quem ainda não passou, não há o que temer, pois uma das primeiras necessidades do homem foi exatamente essa: ter a presença física de alguém. 
Há quem diga que não basta ser carente, é preciso escrever no facebook “sinto sua falta” e curtir o próprio status, há quem diga que carência faz bem porque aprendemos a ser companheiros de nós mesmos e há também aqueles que já receberam passagem para a lua sem direito a voltar, o fato é que todos voltam um dia e retornam entendidos de que carência pode até ser uma viagem indesejada, mas não chega a ser um estágio de outro mundo.

Carine Morais

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Pretensiosamente

Tenho inúmeras pretensões e entre elas está o desejo de te encontrar, então seremos muito felizes, teremos uma casa com grama na frente e estradinha por onde passa o carro, um cantinho todo nosso com portas que correm num pequeno trilho, janelas grandes com cortinas coloridas, mesinha de centro com jarrinho de flores e quadros excentricos na parede.
Devo cultivar uma planta, rega-la com amor todos os dias e teremos um cachorro com jeito de gente, talvez não como aquele que sempre quis ter, (porque as coisas nunca saem do jeitinho que a gente quer) então penso que ele será um vira-lata apaixonante desses que você escolhe pelo brilho dos olhos em meio a mais cinco cachorrinhos abandonados, e o amor sendo inusitado como é, acontecerá ali mesmo.
Para os nossos queridos teremos quartinho de visitas, porque uma casa que não recebe família e amigos, desbota e fica sem vida. Em nosso quarto quero travesseiros com penas de ganço, lençol com cheirinho de amaciante, nossas escovas de dentes dividindo o mesmo armário de espelho, nosso edredon verde com azul, sua samba canção no guarda-roupa de parede e meu pijama de poá na gaveta de baixo.
Em meio a nossa vida encantada quero ser acordada com café da manhã na cama, com geléia na bandeja florida e eu prometo te encher de beijos, todos eles infinitos, cheios de suspiros do tipo: "como é bom dormir e acordar sonhando" e quando o  Jimmy (possível nome do nosso filhote ou talvez, buldogue francês) não for mais suficiente para nos encher de risos e senso paterno maternal, quero gestação tranquila, bebê no colo na foto em família, que ele(a) seja forte e que tenha seus olhos.
E em cada uma dessas palavras tenho desejos sem fim que brigam nas entrelinhas por um pouco de desordem... Falando nisso, quero lavar louça suja da pia com você, espuma de detergente no nariz, rir até a barriga doer.
Não faço idéia de onde você esteja e já me imaginei passando por você umas mil vezes na rua, nos imaginei dormindo lado a lado na poltrona de um avião, esbarrando numa esquina da vida, assim como acontecem nas propagandas de cartão de crédito e até escrever essas minhas vontades eu não imaginava que era pretensiosamente romântica desse jeito. Mas eu te espero e vou te esperar pacientemente ao som de Marisa Monte "Ainda bem", projetando esse meu plano de ser feliz com você.

 [Carine Morais]

domingo, 5 de agosto de 2012

Jura que promete?

 E tudo começa no dia em que ele decide te fazer uma promessa para todo o sempre: “Amor, eu nunca vou te abandonar” ou ainda: “Vida, eu nunca vou te fazer sofrer”. A cena é típica entre casais apaixonados que embalados pela paixão trocam juras eternas e assinam contratos que podem sim ou podem não acontecer. Diz o ditado que quem jura mente, mas quem promete não.
O fato é que todo mundo adora uma promessa pra vida toda, seja você criança, jovem ou adulto e seja ela feita naquele momento em que seu pai te pegou no colo e disse: “filho eu sempre serei o seu herói”, ou quando sua melhor amiga no dia daquele pacto de sangue segurou seu dedo e disse: “nunca mais iremos no separar.” Está selado. Promessas ainda que não sejam cumpridas são vitais para um relacionamento, é como se ao prometer algo imprometível você adquire a capacidade de reafirmar o amor que está sentindo e ao não cumprir o trato feito a decepção causada em conseqüência disso é inevitável.
É comum ouvir de uma amiga que o cara que ela amava simplesmente era um crápula mentiroso, afinal de contas disse que a amaria pelo resto da vida, mas lá está ele, jovem, feliz e com outra. Parece inaceitável ver a separação de um casal que no altar jurou amor eterno... Meses depois vem o divórcio e a quebra do acordo vira assunto da semana. Seja a promessa sussurrada ao ouvido ou anunciada para os quatro cantos do mundo é importante compreender que nem tudo nessa vida pode ser cumprido, principalmente em se tratando de sentimentos, porque se nem nós seres humanos somos eternos menos ainda é aquilo que sentimos, uma vez que querendo ou não podem vir a morrer antes de nós.
É maravilhoso quando as coisas acontecem do jeitinho que foram combinadas, quando a reunião começa no horário marcado, quando a encomenda do bolo chega antes da festa, quando seu cantor predileto realiza o show tão esperado, porém todos esses acordos são exemplos de tratos firmados e não de promessas, a diferença é que aquilo que foi prometido não foi assinado, e nem deve, está ligado mais ao fato da confiança, da palavra proferida e por isso o valor dado ao que se promete é imensurável.
Ver realizadas as palavras ditas pelo seu amor é simplesmente fantástico, ter um amigo de infância e não se separar dele por nada nesse mundo também é, mas para que não haja desilusão daquilo que não foi realizado precisamos amadurecer a idéia de que tudo na vida é provisório, que as palavras mudam de direção de acordo com o vento daquele instante, essencial é sabermos que o que vale mesmo é a força das atitudes, da promessa materializada em demonstração, daquilo que acontece de surpresa, aos pouquinhos, prometido em silêncio apenas com o coração.

[Carine Morais]