quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Procura-se um coração!



Procura-se!

Vivo ou morto, um coração entregue aos poucos enquanto batia feliz.
Procure-se, no formato de uma mão fechada, ou nas formas desenhadas por crianças e adultos também.
Procure-se na cor vermelha, bordô ou roxa, nessas tantas horas longe, já está cansado de bater.
Procura-se, porque a recompensa vale mais que qualquer tesouro, vale mais que um sorriso no rosto, vale uma vida inteira a prosseguir.
Procura-se, em qualquer canto do planeta, largado, sonolento, com frio, sombrio, órfão de mãe e de amor.
Visto pela última vez: Em mãos perfumadas e macias, nada comportadas, porém atraentes e gentis. 
Se adiantar em alguma coisa, ressalto que a vida de quem o perdeu segue cinza e tristonha, segue descolorindo calçadas, pracinhas e seus visitantes, tirando a cor até do algodão doce vendido pelo seu moço da esquina.
Procura-se inteiro, aos pedaços ou metade, é que ele faz uma falta danada, incompleto mesmo assim.
Só não vale trote na entrega, nas pistas para saber onde está seu paradeiro, porque de enganos esse pobre bandoleiro deve estar cheio e por um triz.
Busca-se, espera-se, deseja-se e inquere-se!
Imperativos de quem caminha com uma placa esperançosa, pendurada no pescoço: 

"PROCURA-SE UM CORAÇÃO NO MUNDO!"

- Carine Morais



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Teu sorriso encaixa, deslisa e salva, o amor que nos espreita. O que seria do nosso abraço, não fosse teu queixo encostado em minhas saboneteiras.

- Carine Morais

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Livremente

À primeira vista, curiosidade,
À segunda, puro jogo de interesse.
Mãos dedilhando palavras,
Olhos passeando por entre espaços
Paquera rolando solta
Flerte inicial de todo apaixonado.
Identificação quase que instantânea
Envolvimento avassalador antes do abraço.
Química surreal, 
Cheiro que fica e arremata,
Imaginação com asas,
Desejo de uma história consumada antes da primeira página.
Depois que passa: abstinência literária,
Feito Avenida Brasil quando acaba,
Feito o moço do algodão doce que você não viu passar,
Feito música favorita depois de tocada,
O último pedaço de chocolate que não enjoa,
O amor da sua vida indo embora,
Bandas de marchinhas que acabaram de passar.
Sensações que não se explicam,
Mas se aplicam.
Denso, cheio, concreto.
Devoramos,
Ansiamos,
Prendemos,
Entregamos,
Nos soltamos.
Lemos as linhas,
Somos lidos nas entrelinhas.
Presos por vontade,
Amarrados livremente. 
Livro e mente, 
Livros, simplesmente.
Muitos deles sem sabermos, 
nos provocam tudo isso.

-  Carine Morais

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Colheita

Lá fora faz um mormaço, 
cada nuvem bonita! 
vejo que vem vindo aos montes, 
anunciando desejo de chuva. 
Se cai uma gota do céu, 
a grama acende toda verdinha, 
é muita espera pra ver cair os pingos na terra 
e o tempo é curto pra florescer bonito. 
Se hoje o capim é seco e sem beleza, 
amanhã ele ganha cor, 
é assim como tudo nessa vida.
Num dia gota triste que cai dos olhos, 
noutro porém é sorriso, 
feito fruto sagrado do tempo em que se plantou.

Esperar é preciso.

- Carine Morais

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Cuidar para existir

Invadimos a natureza das montanhas construindo numerosas rodovias, invadimos o curso natural dos rios, construindo grandes redes fluviais. Com o perdão da insolência, não utilizamos devidamente a palavra licença, não batemos à porta das casas do João de barro antes de derrubarmos as árvores de seus alicerces, e no plural da culpa, incluídos estamos, ainda que não se tenha derrubado uma árvore sequer ou eucaliptos arranha-céu, mas quantas delas você já plantou? A invasão não consiste apenas em adentrar sem consentimento o habitat natural das coisas, desordenando dessa maneira sua continuidade, invadimos quando somos permissivos e a permissão nesse caso, nada mais é que escapismo, o abandono daquilo que por nossas mãos pode ser cuidado.

- Carine Morais

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Aquarelando

Para nós escritores, o mundo é uma aquarela.
É como se tivéssemos nas mãos, lápis, pincel, tela e tinta fresca, tudo depende de um único olhar e lá vamos nós pintar em palavras o que nos mostra a vida.



- Carine Morais

Artifícios


Pensou que iria explodir, pressão na nuca que corria em direção as orelhas, os olhos ameaçavam lacrimejar, coração disparou, sorriu por dentro, fez cara de séria por fora. Disparate facial. 
Sentiu esquentar-lhe a têmpora, robustez nas moringas do rosto, sabia que estava vermelha e isso era motivo de vergonha. Euforia, a comparsa da promiscuidade, assessora direta do descontrole.
Há quanto tempo não sentia isso? Desde os 13, colegial, primeiro amor? Estava a beira de seu trigésimo affair e o sentimento de borboleta era o do principio, batia asas dentro da barriga.
Respirou entre as mãos. Tudo ok, o hálito estava ótimo.
Jogou o cabelo para o lado oposto, duas batidinhas na franja, tudo certo. Estava impecável.
Ajeitou a saia, apertou o cinto, corrigiu a postura. Ligou o som baixinho, dois passinhos pra relaxar. Toca a campanhia.
É ele! pensou.
Correu em direção a porta, não se arriscou em bisbilhotar pelo olho mágico,  não se atrevia em sabotar a própria surpresa.
Distância estreita, sorriso largo.
Era Fevereiro e já estava soltando fogos do Réveillon.

- Carine Morais

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013