domingo, 16 de março de 2014

Amarelo, mostarda queimada e cintilitante


Quando eu tinha cinco anos meu pai apareceu com um fusca lá em casa, era de um amarelo tão lindo, mostarda queimada e cintilante. Ele chegou afobado, erguendo os ombros num tique frenético, querendo mostrar o presente estacionado no quintal, assim ele ficava sempre que estava empolgado, quando sua alegria era tanta que mal cabia no peito. Depois de observar o possante por horas, sentir o cheirinho de carro que papai havia colocado, estávamos todos orgulhosos do mais novo integrante da família.
Nas noites de domingo andávamos pela cidade ouvindo canções de uma velha fita, pareciam eternas as ruas que passávamos, mesmo aquelas estradinhas de chão batido. Com ouvidos ligados na música do padre Zezinho, oração pela família, observava as pedrinhas que o farol acendia, deixando o chão reluzente, aquela era a estrada mais bonita que os meus olhos conheciam, entretanto o efeito mágico só acontecia nas noites de domingo voltando para casa, no outro dia o chão voltava sua cor de barro triste e desbotado.
Acreditava de um jeito abençoado, que aquele piso dourado e suas pedras de ouro, só aconteciam por mistério de nosso Fusca amarelo, mostarda queimada e cintilante.

- Carine Morais

4 comentários:

  1. Surpreendes-me. Percebo que és tão boa cronista quanto na escrita de poemas. Quantos fuscas amarelos mostarda cintilante de nossas vidas encantaram e encantam momentos que ficaram e ficarão para sempre nos corações? Tu és uma dádiva. Beijossssss

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    1. Suas passagens pelo blog são tão misteriosas quanto nosso fusca amarelo, mostarda e cintilante.
      Você faz acender as palavras como as pedrinhas da estrada da minha infância.

      Obrigada, amigo querido!
      Beijoss

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  2. És mesmo uma ótima cronista, Cah! Me lembra as crônicas de Rubem Alves. Acho que não sei fazer isso, mas o que acho de mais maravilhoso é poder interpretar.
    Lindo conto de vivência. Beijos!

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    1. Mirthy,
      Meu coração fica feliz quando a vejo por aqui. Obrigada! quanta honra fazer lembra-la das crônicas do Rubem, tão querido escritor.
      Para mim,como verdadeira admiradora, você escreve e interpreta como ninguém.

      Beijoss

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