segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pseudo - adulta

Quando era criança gostava de ser chamada de gatinha, me refiro ao tratamento dado pelos adultos quando se dirigiam a mim, ser tratada como gente grande era algo eminente entre os meus desejos, ainda que estivesse longe de ser. Fofinha era coisa de criança, bonequinha era infantil, princesa era comum demais, mas gatinha não, gatinha era adulto. Usava chupeta, mas queria ser gatinha, tomava mamadeira, mas queria ser gatinha, tinha medo de trovão, mas queria ser gatinha; era sublime e original até o dia em que fui desafiada: jogar a chupeta no lixo. Céus! era a coisa mais horrenda da vida, dormir sem a minha "pepeta", tatibitati de criancinha, mas eu era gatinha. 
- Que moça bonita, com uma chupeta tão feia! Disse meu vizinho adulto. Fiquei pra morrer. Imediatamente, joguei no matagal que crescia ao lado de casa, meus 4 anos de idade jamais permitiram tamanha ofensa, me livrei da danada; 1 x 0 pra mim. Caminhei por horas suaves, desfilei minha beleza sem chupeta pela tarde inteira, até que a noite chegou e com ela o pesadelo, dormir sem a borrachuda. A tristeza logo bateu, 1 x 1 para nós duas.
- O que você tem mocinha, porque não para de rolar na cama? - Dizia minha mãe preocupada.
- Nada não mamãe.
- Tem certeza?
- Tenho não.
- Há! já era de se imaginar e onde está sua chupeta?
- Joguei no mato.
- E porque a senhorita fez isso? Mamãe sabia me encher de gentilezas. Senhorita me fazia muito bem.
- Porque eu já cresci! Oras.
- É mesmo? Controlou o riso. Pois saiba que moça crescida nunca esconde quem ela é, e nem o que ela gosta de usar. Você gosta de sua pepeta não é verdade?
- Gosto sim!
- Então precisa ficar com ela até o dia que achar que é hora de deixá-la. É assim que as pessoas crescidas fazem. Está certo?
- Certo!
- Pois bem, aqui está. Abriu a mão que escondia por debaixo do cobertor.
- Uau! minha chupeta de volta!
- E sabe quem mandou entrega-la? O Senhor Osvaldo. Ele disse o seguinte: entregue isto para a gatinha que mora na casa verde. Só podia ser você.
Fui dormir aquela noite com milhões de sorrisos no rosto, depois daquele dia passei a usa-la somente antes de dormir, até chegar o momento em que tive que fazer como fazem as pessoas adultas, ao sentir que não mais precisaria, num belo dia, acabei por deixá-la.

- Carine Morais


16 comentários:

  1. Oi, Carine, boa noite!!
    Gatões e gatinhas são perseguidos desde a mais tenra idade por causa da abençoada da pepeta. Bom, precisamos reconhecer que, quanto mais cedo se larga, ou se nem ao menos se usa, melhor é... Mas explica isso para uma gatinha ou um gatão! A mamãe fica na dificílima posição de ter que ensinar o certo, mas tirar o sonho. Mas vizinhos e parentes já são um pouco mais decididos... Bom, isso resultou numa história maravilhosa. Olhei bem para esse rosto de moça formada e fiquei “enxergando” a menininha (perdão, gatinha) de vestido branco e cor-de-rosa, com pepeta e carinha de dengo... Há coisas na nossa vida inesquecíveis, maravilhosas, lindas. E você as conta como ninguém!
    Um beijo carinhoso
    Doces sonhos
    Lello

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    1. Busquei refugio na chupeta e caí numa baita indecisão, ou melhor, contradição: queria a a "pepeta", mas queria ser gatinha. rs
      Criança tem dessas coisas mesmo, contando ainda que o universo sempre conspira a favor delas. Fui dengosa até nascer a caçula que roubou a cena e deixou para mim o papel de filha do meio, fiquei metade mimada rs.
      Sou apaixonada por cada recordação.

      Obrigada por sua presença!
      Beijos meus :*

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  2. Muito bom, também sou filho do meio e gosto de escrever sobre momentos da minha infância, mas não posto em lugar nenhum. Leitura leve e gostosa. Parabéns.

    http://buscainternapaz.blogspot.com.br/

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    1. Oi Daniel, obrigada!
      Se tem um mundo repleto de boas histórias esse mundo é o da infância. Interminavelmente encantador, temos sempre algo novo para contar. Espero que você poste algumas de suas aventuras também. Adoraria ler.

      Seja bem vindo!
      Abraço

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  3. Que bonito, Carine, o romance que traças na transição mais revolucionaria da vida. Bjo

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    1. Obrigada Tatiana!
      E coloque revolucionária nisso. rs

      Beijos meus :*

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  4. Que legal! O Blog ganhou roupa nova!!! E essa casinha verde aí é um mimo. Deu vontade de entrar e tomar um chá desde a primeira vez que vi.

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    1. Obrigada Tatiana! Fico feliz que tenha gostado.
      Tem seu cantinho especial aqui, direito de ir e vir quando desejar, entre sem bater, a chave é sua presença.

      Beijos!

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  5. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. O primeiro grande conflito interno. Querer ser adulto X abandonar o universo infantil. Se houvesse condições de escolha, certamente o universo infantil é milhares de vezes mais encantador. Adulto é prosa, criança é poesia. Parabéns pelo bonito texto, sensível e delicado e também pelo novo visual do blog que está lindo. Um abraço!

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    1. Obrigada Paulo!
      Conflitante essa fase de querer trapacear o tempo e acredito que essa vontade de crescer depressa acontece por pura admiração.
      Fico feliz que tenha gostado do novo visual, a mudança foi feita com carinho para vocês.

      "Adulto é prosa, criança é poesia."
      Adorei!

      Abraços

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  7. Oi Carine.
    A gente passa diversas vezes na vida por situações assim. Um dia lá trás sonhamos em crescer rápido e depois um dia lá na frente sonhamos em ser crianças de novo, a vida e sua peripécias incríveis.

    beijoo

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    1. É verdade Mayara, sempre que entramos em determinada situação temos a tendência de querer estar em outra. Acho que voltar a ser criança é desejo que habita o coração de muita gente.
      Obrigada por sua visita.
      Beijos!

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  8. Muito bom o blog!
    Estou seguindo.
    beijos
    MIRTHY.
    sweet--hope.blogspot.com

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  9. Obrigada Mirthy!
    Fico feliz em te ver por aqui.

    Beijos mil!

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  10. Oi Marlice!
    Estou bem, tudo na paz, e com você?
    Obrigada por sua presença aqui, saiba que é muito importante.
    Fique a vontade para voltar sempre que desejar.
    Beijos meus!

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