sábado, 8 de dezembro de 2012

Confissão de uma estrela

Descobriu o teatro ainda na mocidade, o encontrou escondido por detrás de caixas de madeira, empoeiradas e aflitas esperando por suas interpretações, dentro delas estavam recortes de revista das grandes e renomadas atrizes, objetos de sua enormíssima inspiração. Ali dentro de casa ou na rua em que morava, criava-se seu pequeno palco, afinal de contas subir no velho caixote significava o início de seu derramamento teatral. E quanta presença! Ora, ninguém repetia as palavras de Scarlet em "O vento levou" melhor do que ela: "Mesmo que tenha de mentir, enganar, roubar ou matar, Deus é minha testemunha que nunca mais terei fome." abaixava-se segurando um punhado de terra invisível, tal qual a verdadeira cena do filme, depois de um breve suspense, ao por os pés no chão, recebia aplausos de si mesma.
Anos mais tarde, após estrondosa fama e aclamação do público, foi interrogada por uma jornalista  sobre quando havia descoberto o teatro. Respondeu solenemente: 
 -  Antes de conhece-lo o fazia por brincadeira, o descobri a sério, somente depois de louca.
 - Louca? Perguntou a jornalista confusa.
 - Sim, doida varrida! Esse era o diagnóstico da família e de todos que me viam encenar sobre um caixote. Foi aí que descobri que eu estava pronta.

- Carine Morais
Foto ilustrativa: misswallflower

3 comentários:

  1. Oi, Carine, boa noite!!
    Ei, Ca! Que coisa linda! Ah, Não haverá caixotes que bastem para aquilo que amamos fazer, ainda que para nosso exclusivo prazer secreto! E não haverá críticas dolorosas que mortifiquem o que sonhamos tão profundamente em nossa alma! Sim, louca, doida varrida, desmiolada, candidata a passar fome, inocente, pancada... Com quantas ofensas alguns sonhadores são afligidos, até que o cisne prove que era muito mais que um mero patinho feioso?!
    Quanta coisa mais pode esconder esse seu caixotinho, de onde nos tira tanta viagem de sonho. Certamente, como você mesma se referiu, esse talento é de berço, esse encantamento lhe é tão natural quanto é a outros andar e falar. Estou aqui, com um monte de palavras e sem palavras. Pois, até o momento de lhe enviar este comentário, nenhuma se mostrou adequada para tudo que você é e faz.
    Um beijo carinhoso, grande autora!
    Doces sonhos
    Lello

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  2. Talento, dom, espontaneidade, naturalidade, loucura... podemos chamar como quisermos, mas ninguém consegue represar essa força criativa que todos temos. A semente de cada um germina de um jeito, mas todos temos em nossa essência uma predisposição para determinada arte. Continue sempre escrevendo, teus textos são preciosos e confirmam tua habilidade com as palavras. Abraços

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    1. Obrigada, grande amigo Paulo!
      Tuas palavras souberam me deixar sem palavras. rs
      Desejo a ti que seu amor por escrever nunca se perca, que a poesia seja seu assunto principal por muitos e muitos anos mais.

      Abraços mil!

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