terça-feira, 26 de agosto de 2014

Sapatos


A alguns dias atendi no trabalho um senhor com pouco mais de 80 anos, muito gentil, tinha firmeza nos olhos e sorria enquanto me pedia alguns ternos para provar.
Depois de certa indecisão optou por um tipo simples, na cor preta, que combinaria com varias peças e ocasiões.
Na hora de escolher que calça levaria, ficou em dúvida entre um tamanho e outro. Decidiu ir ao provador, mas somente após muita insistência para não levar um número errado.
Passaram-se 20 minutos e ele saiu cabisbaixo, dizendo:
É... eu acho que talvez seja essa aqui.
O que houve, o Sr. não gostou do modelo? Perguntei.
Não, na verdade não provei.
Sem entender direito, quis saber o motivo e ele respondeu:
“Se eu tirar os meus sapatos, não consigo mais colocá-los de volta.”
Não sei dizer ao certo o sentimento que me ocorreu nessa hora, me comovi, pensei no quanto o passar do tempo pode nos tornar frágeis e que aquilo que fazemos de maneira tão simples e corriqueira, pode ser o grande desafio de outras pessoas.
Depois de ir ao caixa ele saiu satisfeito, me sorriu de longe agradecido, levava na sacola um terno preto e uma calça tamanho 40, estava decidido, optou por número menor ou maior, não se sabe, mas torço até agora para que ele esteja certo.


- Carine Morais

2 comentários:

  1. A ternura perpassa esse texto de alto a baixo. E a marcante verdade de que com a idade, ‘se tirarmos os sapatos, não conseguiremos mais coloca-los de volta’ trouxe uma figura muito forte de respeito e comoção a cada coração que por aqui passa. No meio da vida, quase esquecemos o que, no começo dela experimentamos e no final dela sabemos: como somos frágeis! Também torço para que ele esteja certo. E para que nós, de tantos ‘sapatos’ que não conseguimos descalçar e calçar depois na vida, aprendamos a lição da humildade que existe em tão somente reconhece-lo em tempo oportuno. Texto belo, belo, belo, belo, belo, muito belo. Beijosssssssss, amiga

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  2. Lembro que li essa sua história no facebook e também me comovi com a situação do senhor de pouco mais de 80 anos. Tenho certeza de que sua expressão ao não poder provar o terno tenha sido tão pura quanto triste, tão comovente quando o desejo de provar o terno. Mas sua decisão prevaleceu por cima de sua dúvida. Cm certeza em casa ele retirou os sapatos e provou o terno, que serviu para ele e que alguém o ajudou a colocar seus sapatos de volta. É mesmo belo que tenhas se comovido com a situação do senhor de pouco mais de 80 anos. Eu tenho um amiguinho (que eu chamo de vovô) aqui perto da minha rua que gosta de acenar para mim quando eu passo e ele me vê, e eu amo retribuir isso. Ganho o dia! Somos amiguinhos apenas de "boa tarde", "boa noite" de "tchaus" e sorrisos. Ele também aparenta ter mais de 80 anos, talvez ele esteja mais próximo dos 90, e eu não imagino passar por sua porta e não vê-lo sentado no seu banquinho mais, como é de costume dele. Das vezes que não o vejo fico com o coração apertado, mas sei que ele está dentro de casa se protegendo do frio.
    Esses senhores têm mania de serem doces e amigáveis... rsrs. Talvez o amor os tenha feito assim, amáveis.

    Teu texto é preciosíssimo! Nunca esqueci dele depois do dia que li, e provavelmente vou sempre lembrar dele.
    Beijos, flor poetisa!

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