quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Pé grande

Quando era criança, costumava observar as grandes montanhas que faziam parte do caminho da cidade em que morava até a casa da minha tia.
Eram montanhas gigantescas com um longo tapete verde estendido de uma extremidade a outra, como uma grande camurça suíça que terminava onde os meus olhos não podiam alcançar, me lembro que de longe era possível observar significantes marcas no centro do tapete, pegadas gigantes e desastrosas, eram profundas, logo eu imaginava que só podiam ser de dinossauros.
Não podia estar enganada, é claro! Lá onde os meus olhos não enxergavam deveria ser o misterioso vale em que eles moravam, e tudo fazia sentido, como nas revistas de história. Incrível era imaginar que eles já tivessem morado na minha cidade, com tantos lugares no mundo, e como tudo parecia acontecer só nos Estados Unidos, como o homem ter pisado na lua, eles acharam de morar a algumas quadras de onde tempos depois seria construída minha casa.
Todas as vezes em que passava por ali, pelas marcas dos pés antigos, alimentava dentro de mim que eles realmente haviam existido. E a prova estava viva, à vista de todos, com registros de uns quatro dedos e um calcanhar enorme. Se eu pisasse no tapete lá de casa daquele jeito minha mãe me colocaria de castigo por uns 200 anos e eu seria encontrada de joelhos por um arqueólogo como acontece com fósseis por aí.
Num belo dia olhando para as montanhas como sempre fazia, observei que havia uma propaganda de táxi, no centro: “ligou, chegou!”, achei estranho, pintarem o tapete de branco com um número de telefone, alguém sem entender a proporção desmedida de sua atitude havia pisado em campo próximo as marcas do pé gigante, talvez ele não tivesse se dado conta de que ali havia um segredo que poucas pessoas soubessem, um achado paleológico valiosíssimo em terras brasileiras, fiquei a pensar por vários dias que aquele taxista ousado tivesse sido tão importante quanto o homem que pisou na lua, sendo o primeiro a pisar na montanha dos dinossauros.

- Carine Morais

2 comentários:

  1. A imaginação foi tua primeira companheira. Talvez não possas dizer em que dia a conheceste. Há mesmo pessoas atrevidas que desmistificam nossos sonhos com suas placas enormes. Patsos. Ligar-chegar não se compara a uma pata de dinossauro. Surpreende-me que contes histórias tão bem quanto escrevas poemas. Molto bello, cara. Baciiiiiii

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    1. O pé do dinossauro me encantava e encanta até hoje, ainda o vejo com os olhos de menina, não perder esse olhar é mais que valiosa riqueza para uma "menina adulta" rs.
      Lucas, amigo, sei que me entende quando escrevo, pois consegue trazer sua imaginação para compor a minha. Isso é lindo! Obrigada, sempre.

      Beijos meus

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