Não guardava a lembrança do primeiro sorriso, mas talvez do primeiro puxão de cabelo, a primeira mordida, primeira cena explícita de ciúmes. Soube que naquela época, numa manhã de Natal, fora esquecida dentro do carro no dia em que a criaturinha branca de veias azuis chegou em casa: a irmã caçula, Branquinha do papai.
A diferença entre as duas era de apenas 1 ano e meio, grande mesmo era a diferença de fisionomias, no jeito de ser, aparência e comportamento: uma de pele claríssima com veias ressaltadas, a outra moreninha de cabelos rebelados. Uma tímida até o último fio de cabelo e a outra tagarela e despojada.
Até uma certo tempo da infância alcançaram o mesmo tamanho, gêmeas por dedução, provavelmente bivitelinas e as pessoas lhes perguntavam exatamente isso, ora! com toda razão do mundo, usavam roupas iguais, com cores diferentes, disputavam eternamente entre tapas e empurrões quem ficaria com a cor lilás.
Com poucos anos de vida Branquinha caiu em febre, revestiu-se sobre ela um tecido de poá repleto de bolinhas, houve preocupação geral na família e ao ser examinada pelo médico, foi constatada doença contagiosa e viral: sarampo. A irmã mais velha, preocupada com o fato de não poder abraça-la disse entristecida para sua mãe:
- Posso pegar todas essas pitinhas pra mim? Não quero que ela fique desse jeito.
A mãe se emocionou com o gesto da primogênita. Em algumas semanas a menina estava curada, sumindo-lhe as pintas vermelhas.
Apesar de uma convivência implicante e ao mesmo tempo afetiva, sempre faziam traquinagens em parceria, uma era a cabeça da dupla, a outra o braço direito que executava:
- Que tal a gente comer o creme de chiclete da mamãe? Pegue as colheres, Branquinha! vamos lá!
Desse dia ela jamais se esquece, tomou broncas e muito leite para cortar o efeito do hidratante, que por sinal estava delicioso.
Há porém o dia em que Branquinha também nunca esquecerá, o dia em que a irmã mais velha cortou seu escorrido cabelo louro, era promessa do Divino, não cortar aquelas madeixas, mas quando se viu já era tarde, muito tarde para voltar atrás, a mãe pediu perdão para todos os santos e aplicou castigo na espoleta quebradora da promessa.
Hoje aos 25 anos Branquinha anunciou que irá se casar, a irmã mais velha acostumada com sua presença, sentiu o coração apertado, como no dia em que a viu chorando depois de ter sido atropelada por uma bicicleta, como no dia em que arrancou o primeiro dente de leite, como em sua primeira decepção amorosa e no dia do próprio sarampo, motivo este que as separou por longos dias, só que agora era diferente, bateu saudade antes da ausência, bateu ciúmes de irmã mais velha, estava se cumprindo enfim seu papel de protetora. Sentiu ligeiro medo de perde-la, de lhe roubarem o braço direito, a comparsa número 1 de malcriações, devoradora de potes de creme, mas ela estava feliz, e como estava! Notava-se pelo sorriso de seus olhos engenhosos, pertencentes a uma típica capricorniana, que transparecia o que sentia apenas com o olhar. Seria egoísmo não aceitar vê-la feliz longe de casa, ao lado de seu esposo e seria individualismo também, assim como era no momento de dividir os brinquedos, ou de quem ficaria com o lilás.
Ao receber a notícia do casamento, chorou por dentro, sorriu por fora, viu um filme rebobinando-lhe a memória, livrou-se do sentimento de posse e deixou valer o amor de irmã, esse que não se explica, vai para além dessa vida, elo fraterno que não se desfaz.
- Carine Morais
A diferença entre as duas era de apenas 1 ano e meio, grande mesmo era a diferença de fisionomias, no jeito de ser, aparência e comportamento: uma de pele claríssima com veias ressaltadas, a outra moreninha de cabelos rebelados. Uma tímida até o último fio de cabelo e a outra tagarela e despojada.
Até uma certo tempo da infância alcançaram o mesmo tamanho, gêmeas por dedução, provavelmente bivitelinas e as pessoas lhes perguntavam exatamente isso, ora! com toda razão do mundo, usavam roupas iguais, com cores diferentes, disputavam eternamente entre tapas e empurrões quem ficaria com a cor lilás.
Com poucos anos de vida Branquinha caiu em febre, revestiu-se sobre ela um tecido de poá repleto de bolinhas, houve preocupação geral na família e ao ser examinada pelo médico, foi constatada doença contagiosa e viral: sarampo. A irmã mais velha, preocupada com o fato de não poder abraça-la disse entristecida para sua mãe:
- Posso pegar todas essas pitinhas pra mim? Não quero que ela fique desse jeito.
A mãe se emocionou com o gesto da primogênita. Em algumas semanas a menina estava curada, sumindo-lhe as pintas vermelhas.
Apesar de uma convivência implicante e ao mesmo tempo afetiva, sempre faziam traquinagens em parceria, uma era a cabeça da dupla, a outra o braço direito que executava:
- Que tal a gente comer o creme de chiclete da mamãe? Pegue as colheres, Branquinha! vamos lá!
Desse dia ela jamais se esquece, tomou broncas e muito leite para cortar o efeito do hidratante, que por sinal estava delicioso.
Há porém o dia em que Branquinha também nunca esquecerá, o dia em que a irmã mais velha cortou seu escorrido cabelo louro, era promessa do Divino, não cortar aquelas madeixas, mas quando se viu já era tarde, muito tarde para voltar atrás, a mãe pediu perdão para todos os santos e aplicou castigo na espoleta quebradora da promessa.
Hoje aos 25 anos Branquinha anunciou que irá se casar, a irmã mais velha acostumada com sua presença, sentiu o coração apertado, como no dia em que a viu chorando depois de ter sido atropelada por uma bicicleta, como no dia em que arrancou o primeiro dente de leite, como em sua primeira decepção amorosa e no dia do próprio sarampo, motivo este que as separou por longos dias, só que agora era diferente, bateu saudade antes da ausência, bateu ciúmes de irmã mais velha, estava se cumprindo enfim seu papel de protetora. Sentiu ligeiro medo de perde-la, de lhe roubarem o braço direito, a comparsa número 1 de malcriações, devoradora de potes de creme, mas ela estava feliz, e como estava! Notava-se pelo sorriso de seus olhos engenhosos, pertencentes a uma típica capricorniana, que transparecia o que sentia apenas com o olhar. Seria egoísmo não aceitar vê-la feliz longe de casa, ao lado de seu esposo e seria individualismo também, assim como era no momento de dividir os brinquedos, ou de quem ficaria com o lilás.
Ao receber a notícia do casamento, chorou por dentro, sorriu por fora, viu um filme rebobinando-lhe a memória, livrou-se do sentimento de posse e deixou valer o amor de irmã, esse que não se explica, vai para além dessa vida, elo fraterno que não se desfaz.
- Carine Morais
Carine, sua postagem me fez lembrar um livro que adoro, chamado O Anjo e o Resto de Nós. Ele tem uma feminilidade encantadora e traz como personagens, irmãs que recebem do pai (perfumista) nome de flores, conforme a cor dos seus cabelos e o perfume que emanam. Dentre as irmãs, há a Violeta que tem cabelos lilases e exala o cheiro da flor correspondente ao seu nome...ai, é lindo este livro, Amora...Beijos!!!!
ResponderExcluirQue bacana, Karinne!
ExcluirNão conhecia o livro, darei um jeito de encontra-lo para ler, a história me parece encantadora, obrigada pela dica e obrigada por sua presença tão valiosa aqui!
Beijos, amora :*
Olá Antônio,
ResponderExcluirObrigada pela visita, fico feliz por ter encontrado o Menina Amora, sinta-se em casa!
Com certeza visitarei seu blog.
Abraços!
Oi, Cá, bom dia!!
ResponderExcluirHá tal perfeição em seus contos-crônicas, nós nos sentimos tão tocados, nossa alma tão lavada, que o agradecimento se torna a melhor forma de expressão que possamos ter aqui. É maravilhoso ler você. Encantador.
Eu estava pensando: Nenhuma das duas tem nome. Branquinha tem apenas apelido, mas é só... Qualquer um de nós, que tenha e ame irmãos, pode identificar-se, e encher-se de saudades deles, e do que vivemos juntos.
São provavelmente frutos de um casamento de miscigenação. Eu diria que o pai é o mestiço ou negro, porque diz “branquinha do papai” como forma de carinho pela filha que puxou a mãe, a quem ele ama; de outra maneira, soaria uma forma incompreensível de preconceito subliminar... Provavelmente, Branquinha puxou também a timidez da mãe, sempre secundando a irmã para ser seu braço direito... Mas... Curioso... A irmã mais velha, com 26 anos e meio, mais falante, mais ativa, a cabeça das duas, não casou... Se tivesse casado, não teria os sentimentos expostos pelo casamento da irmã... Branquinha, tímida, diversamente segunda, quietinha e obediente, encontrou primeiro o príncipe de sua história... Talvez tenha sido a primeira vez que passou a irmã...
Há ainda mais coisas por tentar descobrir nessa obra-prima. Vou voltar a ler. Mas o que há de mais doce nela, todos nós já sabemos, Cá. É a doçura do seu coração de menina amora.
Um beijo carinhoso
Doces sonhos
Lello
Oi Lello,
ExcluirSabe o que adoro em seus comentários?
É essa sua maneira única de desvendar os mistérios do texto e de ler nas entrelinhas. É fabuloso escrever uma história e receber de presente um comentário assim tão valioso. Obrigada!
Quando escrevi Branquinha, tive algumas preocupações: 1 - que a irmã mais velha demonstrasse frieza com relação a Branquinha, manipulando e se aproveitando por ser mais nova. 2 - que sentisse invejinha por ela ter se casado primeiro e 3- que a relação de irmãs fosse vista como uma disputa por atenções. Mas aí o texto foi fluindo carinhosamente em direção ao sentimento que une essas duas almas que se amam e que brigam porque se amam que fui deixando ficar assim com está.
Se meu coração é doce, o que direi das suas palavras?
Obrigada por sua presença e pela vida que dá aos textos com suas maravilhosas interpretações.
Beijos meus,
Ca.