sábado, 1 de dezembro de 2012

Eu pensei que morasse na poesia, mas é a poesia que mora em mim

Tentei recordar o dia em que fui apresentada a poesia, me refiro especialmente, àquela apresentação formal, com polidez e seriedade: ''muito prazer, poesia!'' mas talvez esse dia seja tão remoto, que já me escapuliu da memória ou quem sabe me senti tão a vontade e já achei que a conhecia, pode ter sido num sonho breve, comendo algodão doce ou numa brincadeira de roda, penso que a conheci cantando "escravos de Jó", porque eles jogavam Caxangá e Caxangá não faz sentido, mas pra mim ela era uma fruta. Quem sabe tenha sido brincando de amarelinha, me tornado a primeira menina a por os pés na lua, em último caso, se não fomos apresentadas pessoalmente, muito provavelmente uma árvore me contou. Lembro com carinho que a primeira poesia lida foi aos sete anos de idade, uma apresentação informal, lá estava ela, na cartilha de Português, seu nome era "Convite" de José Paulo Paes, me convidava a brincar com as palavras e brinquei, desde então nos tornamos companheiras, amigas de longo tempo, ela era para mim a casa querida que um dia eu quis morar, onde tudo é sempre novo.
Nosso encontro foi marcado pela contingência da vida, experiência concebida no ventre da palavra, um presente divino e por isso jamais pode ser esquecido. Pensando bem, a formalidade das apresentações pouco importa, primordial mesmo é a naturalidade do elo, o cordão umbilical que nos une. Eu pensei que morasse na poesia, mas é a poesia que mora em mim. 

- Carine Morais

CONVITE

Poesia é brincar com as palavras
como se brinca com bola, papagaio, pião.
Só que bola, papagaio, pião 
de tanto brincar se gastam.
As palavras não: 
Quanto mais se brinca com elas, 
mais novas ficam.
Como a água do rio que é água sempre nova.
Como cada dia que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?

- José Paulo Paes - 1995

8 comentários:

  1. Oi, Carine, bom dia!!
    Curiosamente, o início de seu belíssimo poema em prosa apresenta uma meia pergunta que tem a resposta sugerida nas últimas linhas... Foi de um dia muito, muito remoto mesmo, que conhecemos a poesia. Nós a conhecemos quando viemos à existência. Você diz que há um cordão umbilical que nos une a ela... – é verdade! Quando a nossa alma foi gerada, foi gerada em poesia, pois a vida nada mais é quem um grande poema, uma epopeia recheada de sonetos, cantigas, quadras, versos decassílabos perfeitos, redondilhas maiores e menores... Pensamos “descobrir”, ou ser apresentados “formalmente” à poesia, como se pudéssemos visitá-la ou morar nela, mas novamente ao final do texto você diz: ela mora em nós! Como podemos ser apresentados a quem mora em nós?! Podemos sim, descobrir a nós mesmos, à maravilha que é viver, descobrir o amor anos mesmos, ao próximo, a Deus... – e então teremos descoberto a poesia que sempre esteve ali... Se alguém tem deficiência visual, não significa que as coisas que não vê já não existam, mas apenas que não vê... Eu fiz um poema para minha mãe, no dia das mães, aos oito anos de idade. “Mãe, você é a primeira flor da minha vida...” dizia o primeiro verso. Eu aceitei esse convite do Paes! vejo que você o aceitou e pratica a brincadeirinha constantemente. Pois toda você é poesia! Suas mãos são mágicas, hipnotizantes, abrem risos, fazem correm uma lágrima... Isso não te faz poesia?!
    Um beijo carinhoso
    Doces sonhos, menina-poesia
    seu fã
    Lello
    P.S. – Eu amo seu blog.

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    1. Boa tarde Lello!
      Perfeita sua colocação, onde para conhecermos a poesia devemos buscar conhecer a nós mesmos, acho justíssimo uma vez que ela está dentro de nós. Coisa mais linda de entender e de viver, bastando apenas boa disposição de encontra-la. Tentei entender poesia logo assim que me entendi por gente, entretanto não me resta mais dúvidas, temos ligação de sangue.
      Amei seu poema aos oito anos de idade, tão doce e particular, me fez lembrar O pequeno príncipe de Saint-Exupéry, o princepezinho e sua flor que para ele era única, entre tantas milhares.
      Obrigada pelo carinho, por seus comentários repletos de grande visão.
      Fico feliz que você também tenha aceitado o convite de brincar com as palavras, sabes brincar muito bem!

      Receba meu forte abraço.

      P.s: Sou sua fã de poesia, lápis e papel na mão.

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  2. Achei o teu texto delicioso e excelente. E fiquei feliz, por ficar a saber que é a poesia que mora dentro de ti. Mas, mesmo que o não dissesses, isso é patente nas tuas palavras. A tua narrativa é muito poética e ler-te é um enorme prazer.
    Beijo, querida amiga Carine Poeta.

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    1. Olá Nilson!
      Obrigada por suas palavras, também fico feliz por saber que a poesia faz morada em ti, toda casa onde ela mora, é lugar lindo de se viver.

      Beijos mil!

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  3. Há coisa mais poética do que pular amarelinha e chegar saltitante e risonha num céu de giz? A poesia está no chão de quem nasce poeta, querida, está no teu chão. Beijin

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    1. Obrigada Tatiana!
      Que o caminho por onde andar seja ladrilhado de poesia.

      Beijos meus :*

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  4. Quem vê poesia em tudo, tem a poesia em si. Essa poesia veio com a pureza da infância, não deixe que ela amadureça, não permita que ela largue a chupeta, assim será sempre pueril, e conservará o brilho nos olhos de quem se alegra com o sol, a chuva, os pássaros, a vida...

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    1. Que bonito isso Paulo,
      encontrar alegria no sol, na chuva, nos pássaros.
      Que a poesia da vida brinque eternamente conosco e vice-versa, nos traga de surpresa muitas felicidades.
      Obrigada!

      Abraços!!

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