Ele a seguia freneticamente pelas ruas do pequeno bairro, a perseguia insistentemente, cansativo e barulhento até chamar sua atenção.
Isadora, a menina alvo da perseguição segurou-lhe por entre os pequenos dedos e disse olhando dentro de seus olhos: aposto que está pensando que sou sua mamãe, não é? Não se preocupe, vou levar você comigo. E foi amor a primeira vista, um sentimento sem igual, aquela bolinha de pêlos lisinhos, possivelmente órfão de pai e mãe se tornou seu grande companheiro, seu mais novo filho, um pequenino pintinho amarelo.
E agora o que fazer? pensava Isadora ao planejar uma forma mirabolante de levá-lo para dentro de casa. Seu pai, completamente conservador jamais permitiria que aquela criaturinha entrasse em seus aposentos, lembrou-se de um dia em que ele havia impedido a entrada de um cachorro em seu quintal. Sua mãe dona de casa dedicada, diria certamente que aquilo era loucura, um desrespeito as ordens de seu pai. E foi exatamente com ela previu:
- De onde você tirou isso Isadora?! Onde foi que você pegou? Dizia a mãe assustada, temendo que o pai escutasse o piado do pequeno.
- Mãe eu não roubei! ele me seguiu até aqui, está sozinho pobrezinho, não tem ninguém, deixa eu ficar com ele, deixa vai, deixa!
- Sabe que por mim não há problema, mas sabe bem como é seu pai. Lamentava preocupada, passando uma pilha de roupas enquanto o pinto piava. A menina se entristeceu, e como num gesto de despedida, abaixou a cabeça passando seu dedinho indicador por entre os pêlos do filhote. A mãe relutou.
- Porque não pergunta pra Receba se ela não quer ficar com ele? Ela é cheia de bichos pela casa e o pai dela jamais implicaria com a chegada de mais um.
Rebeca era a vizinha encrenqueira da família, a típica Felícia que adorava maltratar os animais. Enquanto sua mãe lhe fazia a proposta descabida, Isadora visualizava seu pequeno filhinho esmagado pelas mãos da garota perversa.
Rebeca era a vizinha encrenqueira da família, a típica Felícia que adorava maltratar os animais. Enquanto sua mãe lhe fazia a proposta descabida, Isadora visualizava seu pequeno filhinho esmagado pelas mãos da garota perversa.
- Não! Isso é maldade mãe, ela não sabe cuidar, ela machuca, bate, não sabe dar comida. Deixa ele comigo vai?
Comovida com o apelo da filha, decidiu concordar com o que pedia: está bem! fique com ele, mas dê um jeito de fazê-lo parar de piar, seu pai está vendo Jornal na sala e se ele escutar, você nunca mais irá vê-lo. A advertiu enquanto borrifava um casaco de Brim.
Isadora sorriu, repentinamente encheu-se de toda felicidade e posse de uma verdadeira mãe, ela temia perdê-lo e em virtude da intolerância de seu pai, resolveu fazer conforme sua mãe a pedira, se quisesse continuar com o bichinho, deveria acabar de vez com os seus ruídos, foi então que encontrou uma solução e teve segundo ela, uma brilhante ideia. A medida que sua mãe se dedicava em sua tarefa, a menina cuidadosamente colocou o pintinho dentro de uma gaveta vazia e o trancou. Com o piado abafado seu pai não o poderia ouvir, e ali fechado e isolado, estaria seguro.
Isadora sorriu, repentinamente encheu-se de toda felicidade e posse de uma verdadeira mãe, ela temia perdê-lo e em virtude da intolerância de seu pai, resolveu fazer conforme sua mãe a pedira, se quisesse continuar com o bichinho, deveria acabar de vez com os seus ruídos, foi então que encontrou uma solução e teve segundo ela, uma brilhante ideia. A medida que sua mãe se dedicava em sua tarefa, a menina cuidadosamente colocou o pintinho dentro de uma gaveta vazia e o trancou. Com o piado abafado seu pai não o poderia ouvir, e ali fechado e isolado, estaria seguro.
O pintinho que piava aflito começou a piar mais alto ainda, até que lentamente perdia suas forças dentro da gaveta escura e abafada, um piu a cada dois ou três minutos e nada mais se ouvia sair dali. A mãe distraída em seus afazeres, dobrava roupas a cantar, a menina abaixada e quietinha, com o ouvido grudado no guarda-roupas velho, pensava inocente e resignada, vislumbrando seu plano de o tê-lo para sempre: - acho que agora ele dormiu.
- Carine Morais
Tadinha da Isadora...
ResponderExcluirQue linda a ingenuidade de criança. Quem não teve essa intenção de um dia pegar um bichinho na rua e trazer para casa? Teu texto me traz antigas e boas lembranças dessa época tão boa da vida. A maneira como narras os fatos prende até o desfecho final. Não vou falar muito para não fazer barulho, porque acho que ele ainda está dormindo no guarda-roupas rs. Um conto lindo, delicado e gostoso de ler. Um abraço
O mirabolante plano de Isadora tambem me fez viajar ao passado,nela encontramos o amor pelos bichos,esse amor incapaz de maltratar, como muitos adultos o fazem, so que infelizmente e com toda inocencia de uma crianca, Isadora colocou o pobrezinho para dormir mais que o recomendado rs.
ResponderExcluirObrigada por sua visita!
Abraço.
Oi, Carine, boa noite!!
ResponderExcluirÉ a primeira vez que entro no seu "Menina Amora" e tive a felicidade de já encontrar esse mini conto maravilhosamente belo. A inocência pode ser trágica, o cuidado amoroso pode ferir, o bem pensado pode tornar-se um mal realizado... Todos eles temas complexos, de carga psicológica profunda, extremamente reflexivos e profundamente envolventes. Tudo isso numa narrativa enxuta, perfeita, impecável, belíssima. Quem é o culpado pelo "adormecimento" exagerado do pintinho? A inocência da Isa, a intolerência do pai, a nulidade de posição da mãe ou a maldade da Rebeca? Tanta coisa a pensar!
Um conto maravilhoso.
Fã de primeira viagem.
Um beijo carinhoso
Doces sonhos
Lello
Obrigada Lello por sua passagem aqui no Blog, fico feliz com sua visita!
ExcluirRealmente muitas perguntas nos circulam e seu olhar sobre o texto nos abriu um leque de possibilidades.
Gosto da ideia de reflexão e também gostaria de uma boa explicação para o ocorrido com o pobre pintinho.
O texto me surgiu de uma inspiração da infância e compartilho com vocês para refletirem com carinho.
Beijos meus!
Que maravillosa metáfora da vida : não somos nos todos como aquele pintinho ?
ResponderExcluirpincocarla obrigada por sua visita!
ExcluirEm muitas situações podemos nos ver como cada um dos personagens, podemos ser corajosos, indiferentes, amorosos, egoístas e tantos outros adjetivos que somente nosso próprio olhar pode encontrar.
Seja bem vinda ao Menina Amora!
Beijos
Oi Carine, estou passando pra lhe dizer que indiquei seu blog para o Prêmio Dardos.
ResponderExcluirpasse no meu blog TARRAFEANDO e pegue seu prêmio.
Um grande abraço.
Paulo, fiquei sem palavras com a indicação, estou muito feliz!
ExcluirObrigada pelo presente de receber o prêmio e parabéns por também o te-lo recebido.
Agradeço pelo carinho de sempre.
Forte abraço!
Adorei a história e a metáfora que ela propõe, muito bom!
ResponderExcluirBeijos.
Obrigada Lu Rosário!
ExcluirFico feliz que tenha gostado.
Seja bem vinda ao Menina Amora!
Beijos