quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Quando nasce um escritor

Uma a cada mil crianças nasce escritora, nasce aquela que nos primeiros anos de vida enxerga o mundo além das cores preto, branco e colorido. 
Aquela que persegue freneticamente uma borboleta despretensiosa só para descobrir o mistério de ver seus pezinhos triscando numa flor, que tenta descobrir até onde vai o arco-íris e acredita mesmo depois de crescido, que existe um pote de ouro escondido onde ele termina.
O pequeno escritor ainda bebê recita seu próprio choro e se acalma com músicas inventadas pelos pais, ele  tem à flor da pele, o sentimento do que é belo e sublime. Consegue ver graça em dias de chuva, mesmo perdendo suas partidas de futebol no campinho da esquina e enquanto boa parte dos outros guris se encolhem entre os cobertores nos dias de inverno, ele descola revistas criativas para colorir ou pede para que seu adulto favorito lhe conte alguma história. Já as pequenas autoras de tão sensíveis e apuradas, materializam cantigas de roda e caminham sorridentes por pedrinhas de brilhante. 
Nada passa despercebido por esses pequenos e o gosto pelas palavras vem desde muito cedo, vem pela gargalhada com um "A" entoado diferente, pelo bocejo com o "O" que salta no final do suspiro, vem quando aprende a escrever seu próprio nome e se sente orgulhoso de suas letras garrafais. 
Os futuros autores, jornalistas, poetas e quem sabe compositores, se precipitam em aprender a ler, decifram o código da escrita, viajam em livros de figuras divertidas, inventam fábulas para si mesmos e só eles conseguem enxergar objetos em formato de letrinhas, sofá em forma de S, coração em forma de C, porque o mundo das palavras gira dentro de seus olhos. 
Quem pela divindade possui esse dom, nasce com o talento subliminar de descrever tudo aquilo que sente, quando criança é notável sua desenvoltura para dar nome aos bichos, ao amigo imaginário e quando crescido consegue transcrever com a leveza de um equilibrista aquilo que cada um expressa secretamente. 
Não que as outras crianças não possam ter essa sensibilidade, elas também podem ser tangíveis a outros olhares, podem se tornar bons músicos, dançarinos, pintores, escultores ou tudo isso ao mesmo tempo, mas aquela que nasce com a aptidão de escrever  se destaca a cada mil crianças e sua chegada ao mundo deve ser comemorada com sorrisos e muita festa.  

Carine Morais
Imagens - Robert Doisneau


4 comentários:

  1. Que texto mais lindo!!! Não apenas li, mas reli e senti o teu texto. Essa sensibilidade de quem se vincula a escrita é uma verdade inquestionável. Existe mesmo uma maneira diferente de ver o mundo. Eu não tinha pensado a vida sobre esse enfoque, mas realmente a fome de escritas já existe na criança, que ávida pelas palavras, percorre seus dias como quem folheia livros e revistas, trata suas memórias como quem anota em diários. Parabéns pela clareza do texto e pela maneira de descrever tão precioso tema. Um grande abraço

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  2. Fico lisonjeada com seu comentário!
    Obrigada por cada palavra.
    Sinta-se homenageado com meu texto, porque vejo em você esse maravilhoso dom.

    Abraço!

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  3. Achei lindo o seu texo, muito bom mesmo. Espero que tua inspiração nunca acabe, e a minha também não ( risos ).
    Peço encarecidamente que, quando tiver um espaço de tempo em que não estiver fazendo algo de muito importante, faça uma visitinha ao meu blog, e deixe sua opinião.
    Desde já, agradeço!

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  4. Obrigada pela visita Jotta Pê, fico feliz que tenha gostado!
    Desejo de coração que nossa inspiração seja infindável! rs
    Com certeza te farei muitas visitas. ;)
    Seja bem vindo sempre!
    Abraço

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